segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Espelhados ou polidos?



Numa época em que o chamado centro histórico do burgo é revitalizado com grandes obras de conservação e recuperação, apostando cada projecto em manter a identidade do local, respeitando a sua alma mas, ao mesmo tempo, introduzindo novos conceitos de modernismo espelhados pela opção certa na escolha de materiais e de mobiliário urbano, a tesoura de atarracar não pode deixar de se indignar com outras obras que a edilidade leva a cabo, no mesmo centro histórico mas, desrespeitando tudo o que a envolve.


O largo do município. Andaram obras durante uns bons meses no rés-do-chão daquele edifício de frente, onde estava a caixa de multibanco. Ao que parece, está pronto. A tesoura de atarracar pergunta: quem foi o autor daquele projecto de recuperação? Quem foi o técnico que terá acompanhado a obra?


É, no mínimo, questionável. Porque é que num largo onde todas as portas são em madeira, pintadas na cor verde-garrafa-escuro, a deste edifício é numa cor verde escura brilhante e com grades?


Para além disso, o autor deste projecto de recuperação aplicou nesta intervenção o conceito do voyeurismo: ver sem ser visto. Todos os vidros das janelas são… espantem-se…espelhados!


Convém lembrar que Sesimbra e o seu núcleo histórico, pelo seu valor cultural, pela sua identidade e autenticidade, merecem que o seu património imóvel seja valorizado.


Pelo que se tem observado das obras que já se conhecem, nas zonas antigas e de valor histórico da vila, as intervenções urbanísticas têm-se preocupado em recuperar um determinado valor patrimonial e tentam reabilitar vivências sociais e memórias culturais das respectivas áreas.


É bom que todos estejam atentos e não venham a pôr em causa uma possível classificação do “conjunto histórico da vila de Sesimbra” como de “interesse público” e/ou de “interesse municipal”.


A tesoura de atarracar anseia pelas obras que se irão desenvolver no largo do município e na rua da república. Pode ser que esse projecto venha a sanar este erro grosseiro que desvirtualiza o largo, desrespeitando um edifício que está classificado como património municipal.



domingo, 14 de setembro de 2008

A capital rasca do campo


Descentralizando mais uma vez as atenções pexitas do burgo, a tesoura de atarracar decide centrar as atenções naquilo que não se faz fora deste.

Durante as últimas décadas ouve-se falar de um tal plano que vai resolver muitos dos caos existentes na “capital do campo”…

Ouve-se falar do plano mas, existe? Está a ser feito? Falta muito? É que o caos continua. As obras continuam a crescer. Os loteamentos e as urbanizações também. Será que esse tal plano vai servir para alguma coisa? Ou é apenas mais um, onde se gastou uns milhares e que, depois de publicado, de nada serve?

Senão vejamos:
A “capital do campo” é o local por onde tudo passa. Passam todos os que vêm de Paris ou de Londres, de Barcelona ou de Berlim, de Lisboa ou de Setúbal, do Meco ou de Alfarim, da Maçã ou das Pedreiras. É inevitável. Todos os que por um motivo ou por outro queiram entrar no burgo passam por lá.

O cenário urbano é único no planeta:
Vindo da Cotovia, apanhamos uma rotunda que ninguém percebe para que é que serve, o “prédio do cachão” cheio de lixos nas varandas, o “prédio do teodoro alho” com o “ângelus” apertado naquele canto de um pseudo-estacionamento com entrada directa na rotunda, mais à frente o velhinho prédio do dr. Tocatins que nos faz entrar numa curva apertada, de caras com um resto de casa que ficou ali pendurada depois das obras do “ prédio do Titanic”, e que o “Pedro Filipe” diz que se vende…

Em frente, o antigo dispensário, onde as crianças do campo eram vacinadas em tempos que já lá vão, completamente abandonado. Depois temos a “escola dos ratos” transformada em sede de uma empresa de construção e o “Avelino”, que vai resistindo ao progresso, com as suas bicicletas e os seus remendos.

Se viermos da Maçã, depois da rotunda dos espadartes, ainda apanhamos com um “nobre escolha” abandonado, cheio de lixos e um acesso sujo às traseiras do “prédio do teodoro alho”. Um cenário idílico… Chegamos à rotunda e levamos com o mesmo cenário de quem vem da Cotovia…

Mas se viermos do Meco, podemos sempre fugir da “capital do campo” pela estrada da igreja da Corredoura… mas se viermos em frente… é melhor fecharmos os olhos no percurso entre a “casa do campo” e o antigo “charuto”. Senão registaremos algo que não mais vamos esquecer: prédios novos que parecem velhos, desprovidos de qualquer tipo de sensibilidade arquitectónica, casas rurais antigas entaladas entre o “progresso”, carros por todo o lado, pessoas como baratas tontas a ziguezaguear entre carros e mais carros e mais carros, casas antigas fora dos “alinhamentos”, casas novas a criar dentes de passeios contra muros antigos, grandes varandas sobre a estrada, a confusão dos correios e de todo o comércio ali existente, … Finalmente, chegamos à bicha do semáforo!

Enquanto esperamos, estamos no meio de um enorme cruzamento para a Almoinha, uma praça de táxis, uma residencial, o “Zé barbeiro” e uma varanda que nos alegra a vista com a sua branca de neve e os sete anões. Do outro lado da estrada, um muro velho, um passeio mínimo, uma cabine telefónica…

Se viermos do burgo, podemos sempre desviar pelo "forno da cal" e sair ali, apertadinhos e perigosamente no cruzamento para a Quintola. Senão, seguimos em frente, apanhamos a “flecte”, a farmácia e a desorganização do estacionamento e daquele acesso em terra batida ao “Florentino”. Podemos sempre olhar para o outro lado, e ver a horta daquela casinha entalada entre as escadas que nos levam ao antigo “charuto” e uma florista… Finalmente, chegamos ao semáforo.

O percurso entre semáforos e a rotunda é comum a todos os que passam, venham donde vierem. É também neste percurso que se encontram cenários difíceis de descrever:

Um cruzamento da Quintola que sai directamente e sem visibilidade para uma faixa de rodagem que ganha, naquele momento, duas vias no mesmo sentido, interrompidas por uma paragem de autocarros, apertada contra um muro e um passeio minúsculo.
Um jardim tapado por um quiosque e em muitos dias, por um jipe que ali estaciona.
Do outro lado, uma paragem de autocarros desordenada, plantada no meio da via, um passeio gigante sem limites, carros estacionados, muitas pessoas, muitos camiões e um cruzamento de quem vem do “forno da cal” que sai em cima de uma passadeira perigosíssima, em frente à loja de fotocópias. Ainda há espaço para um café…

O que falta fazer na “capital do campo”? Poderá um plano alterar este ambiente degradante de péssima qualidade urbana e arquitectónica?

Como grande exemplo novo, daquilo que é possível fazer, temos o “prédio do Titanic”. Mais uma grande obra de um engenheiro deste concelho e de um proprietário sedento de realizar dinheiro através da especulação imobiliária. O que se vê, é uma chaminé pendurada no meio de uma calçada gigante, rodeada por hipotéticos espaços comerciais e apartamentos vazios, à espera que alguém os compre…

Houve melhoria no espaço público? Não.
Contribuíram de alguma maneira para melhorar o acesso à “capital do campo”? Não.
Tentou a Câmara “obrigar” o proprietário e o engenheiro a encontrar soluções que resolvessem o remate com o prédio do dr. Tocatins? Não.
Alguém pensou num espaço público nobre, onde pudessem, por exemplo, ser instaladas as paragens de autocarros? Não.

E o que dizer da estrada sem saída, criada ao lado da antiga “escola dos ratos”, e do perigoso entroncamento desta com a estrada nacional?

A tesoura de atarracar sugere a todos os que anseiam por um lugar nas listas dos partidos, que insiram no seu programa eleitoral, objectivos e soluções para resolver este caos urbano, que faz com que Santana seja considerada a “capital rasca do campo”.

Comprem as casas velhas devolutas e que estão à venda e, deitem-nas abaixo. Obriguem os proprietários a pintar e a reabilitar os prédios, há lei para isso. Obriguem os grandes “investidores” a contribuir para a melhoria do espaço público. Façam uma grande rotunda no lugar dos semáforos, que resolva o entroncamento da Almoinha, de quem vem de Sesimbra e de quem vem da Cotovia.

Ou então, apresentem o tal plano…e esperemos que o mesmo tenha qualidade urbana e já agora, que seja exequível…

A tesoura de atarracar sugere ainda a todos os interessados, que visitem www.escritaleitura.blogspot.com, para que saibam o que as nossas crianças de 11 e 12 anos pensam sobre o futuro de Sesimbra…