sábado, 21 de fevereiro de 2009

3 dias de folia


Com o país em recessão, com a gasolina que não desce como gostaríamos, com o aumento do pão, do gás, da luz, da água, com as taxas de esgoto, com as “facadas de verão”, com a falta de estacionamento, com as obras do burgo, com a chuva o vento e o frio que não nos deixa pescar, com os comerciantes sempre a dizer que “isto tá mau”, com as casas que não se vendem, com o Mantorras que não joga, com a luta de tachos e tachinhos, com a pré-pré campanha eleitoral, com as cunhas, com os subsídios, com a má criação das pessoas, com a falta de respeito pelos outros, com o constante apertar de cinto, com as noticias de desgraças que acontecem pelo mundo e que nos invadem a casa à hora da refeição, com a visita do presidente da república à Quinta do Conde – sem passar pelo burgo, com o Benfica que não é campeão, … está aí o Carnaval!

Deixem de ser má línguas. Deixem de dizer mal só por dizer.

Deixem-nos a nós, mulheres, sair à rua quase nuas para desfilarmos orgulhosamente e mostrarmos as nossas banhas, estrias e varizes.

Deixem-nos a nós, homens, aparecermos em todos os bailes e desfiles com os nossos pêlos do peito cheios de brilhantes, os nossos grandes bigodes, pêlos nas pernas e nos sovacos, dando largas à nossa vontade de por apenas três dias conseguirmos ser “coelhinhas”, “enfermeiras” ou “marafonas”.

Deixem-nos por um dia desfilar, verdadeiramente, como palhaços. Não é isso que somos o ano inteiro? Palhaços que nos deixamos “ingenuamente” manipular por estes gajos que nos governam e que nos tratam como “bobos da corte”?

Pexitos e pexitas saiam para a rua! Gritem, dancem, riam. Divirtam-se uns com os outros.

Deixem-nos esquecer.

Os outros, os que não são “ingénuos”, nem “bobos da corte”, nem “palhaços”, fiquem com a vossa elitezinha, na vossa ágora e, à falta de melhor que vos ocupe a mente, digam mal de nós, de todos nós. Afinal como alguém disse “mentes grandes discutem ideias, mentes medianas discutem eventos, mentes pequenas discutem pessoas…”

Encham jornais e blogues com aquilo que de pior conseguirem falar de nós – pessoas. E se não souberem nada incrível, inventem. Afinal não é isso que caracteriza o burgo? Fala-se de tudo e de todos e quando não se sabe, inventa-se.

Ou então, façam como os cobardes que, para não serem vistos e verem tudo e todos, cobrem-se dos pés à cabeça, calçam luvas e usam mascarilhas e, são sempre mudos! Não vá alguém conhecer a voz…

Ou então, façam como os sábios iluminados, que com os seus ares superiores dizem não gostar do carnaval e preferem aproveitar a ponte do fim-de-semana para apanhar sol… em Ovar ou Loulé…

Depois ainda temos os outros, mais aficionados ao “verdadeiro carnaval”. Gostam de um desfile a sério, com a bela mulata nua a sambar sambódromo abaixo. “É isso aí, levanta o pé do chão! É isso qui meu povo gosta, né?” Alguns até pagam para poder desfilar ao lado da mulata…

Depois, a “nata da nata”, mais erudita, prefere um carnaval de luxo, sem batucada, num cenário edílico, com frio, com chuva, perto de são marcos…

Carnaval em Portugal? Carnaval em Sesimbra? Nem pensar. Quem é que se terá lembrado disto?

Carnaval, carnaval, a ser, é na Madeira. Aí sim. Em tempo de recessão, nada melhor do que foliar num paraíso fiscal…

Pexitos e pexitas divirtam-se! Mandem tudo para trás das costas. Soltem-se. Afinal é Carnaval e ninguém leva a mal.

Lembrem-se que “vozes de burros não chegam ao céu”.

Sejam felizes!
Bom Carnaval!