terça-feira, 31 de março de 2009

Excepção à regra...


A tesoura de atarracar tem tido como hábito analisar, ler, comentar, os vários regulamentos que a edilidade tem aprovado nos últimos tempos, tendo como objectivo trazer para o domínio público do cidadão comum documentos que, por norma, apenas são discutidos e analisados nas esferas político/partidárias.

Na habitual visita à página oficial da edilidade, a tesoura de atarracar tomou conhecimento que a Câmara (e segundo apurou, também a Assembleia Municipal), já aprovaram um novo regulamento para o concelho, ou melhor, para os clandestinos, que se chama “Regulamento de Manutenção de Construções”.

Mas então este novo regulamento não tem, como todos os outros, um período de discussão pública? Onde o cidadão comum pode participar, opinar, propor, perguntar, …?

Qual é a pressa? Ou melhor, a pressão? Será comunista? Ou será antes, socialista? Ou tratar-se-á da pressão de uma coligação socialista/comunista?

Vem este regulamento resolver algum problema aos naturais do concelho? Não. Porque os naturais do concelho não são clandestinos, não compraram avos, nem construíram ilegalmente à espera de regalias fiscais e sociais.

Vem este regulamento resolver algum problema aos eleitores do concelho? Não. A grande maioria dos clandestinos é eleitora noutros concelhos. Os poucos clandestinos eleitores não influenciam os destinos políticos/partidários dos candidatos, assessores, tachos e tachinhos.

Então? A pressão será dos amigos? Ou será de familiares? Ou será de outros com algum interesse na matéria?

Pelo que é publicado na página oficial da edilidade, parece que vai ser possível "assegurar a manutenção de habitações construídas à margem da lei".

Então não deveria o regulamento chamar-se: “Regulamento para confirmar a velha máxima «o crime compensa» ”?

Ou seja, um clandestino compra uns avozitos por tuta e meia. Constrói ilegalmente, a seu belo prazer, sem dar cavaco a ninguém, sem cumprir coisa nenhuma e sem pagar impostos sobre nada.

Passados alguns anos, a edilidade arranja um “regime de excepção” para manter estas casas que nada respeitaram e que ainda não respeitam.

O clandestino, coitadinho, que apostou no cavalo certo, consegue agora vender os seus avozitos e até, apresentar uma licença de utilização na escritura, de uma habitação construída à margem da lei. O investimento tardou mas, arrecadou. O que valia 3.000€, agora vale 150.000€. Sem caroço. E porque, coitadinho, é clandestino, ainda beneficiou das excepções do regulamento de taxas e licenças…

Apesar disto, e porque cada caso é um caso, existirão clandestinos no concelho que não apostaram em cavalo nenhum e, o que têm é o que se vê.

A tesoura de atarracar espera que este regulamento tenha uma forma de garantir um tratamento justo e equilibrado, que saiba distinguir o trigo do joio e que sejam, efectivamente e, apenas e só, "os moradores" (entenda-se contribuintes e eleitores do concelho) "desprovidos de recursos" (que podem ser comprovados através da declaração de IRS ou, do vencimento mensal ou pensão) "e impossibilitados de recorrer ao crédito" (por idade avançada, ou por rendimentos baixos que não suportam uma prestação), a beneficiar deste novo “regime de excepção”.

Esperemos pois que, apesar de ser um “regime de excepção”, este novo regulamento imponha algumas regras, que se traduzam em excepção às regras do regime de excepção…

A tesoura de atarracar desconhece o teor deste novo regulamento e anseia que o mesmo seja tornado público, para que se dissipem todas as dúvidas que neste momento a invadem.

Aos naturais da terra, que só querem construir a sua casinha, já sabem: não há excepção à regra nem regimes excepcionais…

Talvez o novo regulamento nos brinde com algumas frases deliciosas e valiosíssimas do tipo:

“São direitos do clandestino, que não é natural, nem morador, nem trabalhador, nem eleitor deste concelho, ser tratado num regime de excepção, com respeito e urbanidade pelos partidos, políticos, assessores, tachos e tachinhos do município.”


domingo, 29 de março de 2009

Ao lado do Conceição


Tem sido bonito de ver, o burgo voltar a ter fins-de-semana soalheiros, com restaurantes cheios e gentes a magote, que passeiam, avenida abaixo, avenida acima, desfilando orgulhosamente pela nova marginal nascente, e pela velha marginal poente.

Porque a época não está para gastos, muitos visitam o burgo apenas para se passearem na enorme passerelle, marginal ao mar.

É vê-los, “os de fora” mais encalorados, em calções e t-shirts, desejosos de entrar na água demasiadamente fria.

“Os da terra” trazem as mulheres para este “passeio dos tristes”. Eles vestem uma roupinha de fim-de-semana de marca e uns sapatinhos bem engraxados. Elas aproveitam a deixa e arranjam os cabelos, maquilham-se, vestem um vestido provocador, uns belos sapatos altos e estão prontas.

Depois, de mãos dadas como se estivessem perdidamente apaixonados e, sem trocarem uma palavra, caminham desde a Califórnia ao Monumento aos Pescadores.

Atravessam a Rua de Fortaleza, cheia de carros, e que ninguém percebe porque é que não aproveitaram as obras e transformaram aquela via num percurso pedonal e, chegam ao velhinho Largo da Marinha e ao inicio da outra marginal…

Já cansados, acabam por se sentar no velho muro da praia, de costas para o mar… a ver quem passa. Sim, porque a coisa está preta e olhar para as coisas, ainda é de borla…

Também a tesoura de atarracar, e talvez há falta de melhor, tem feito o “passeio dos tristes”… observando os lindos prédios que marginam a marginal, na sua linda cor-castanha-de-caca, desde o X-UP até ao Hotel do Mar…

Porque a idade já vai pesando, também a tesoura de atarracar se senta no muro, de costas para o mar… a ver mais uma grande obra que vai crescendo entalada entre o Hotel e o Bar Inglês…

A tesoura de atarracar anseia por ver o novo prédio a crescer e a tomar forma… e a dignificar aquele remate entre um prédio velho e uma obra de arquitectura exemplar…

Mas porque conforme já foi referido noutros post’s da tesoura de atarracar, todos sabemos e percebemos mais e muito melhor de urbanismo do que aqueles que têm a habilitação, capacidade e criatividade para propor, esperemos que depois de estar construído não apareçam vozes contra, providências cautelares, queixas à Judite, and so on, and so on, and so on…

Para já não falar que a culpa será sempre da autarquia, por aprovar um projecto com base no PDM e não, uma “coisa” que se coadunasse melhor com Sesimbra.

Aguardemos…