segunda-feira, 24 de agosto de 2009

No reino da fantasia...

No dia 11 de Outubro de 2009, todos os telejornais nacionais da noite abrem com uma notícia de Sesimbra: “Avizinha-se resultado histórico nas autárquicas do concelho de Sesimbra”.

Na RTP 1, o pivot de serviço referia que “pela primeira vez, um movimento cívico popular, criado especificamente para este acto eleitoral, elege o seu cabeça de lista.

Vamos já entrar em directo…”

Num zaping pelos restantes canais nacionais, a imagem é igual: um grande aparato televisivo, invadiu a Quinta do Conde e, na cave da Junta de Freguesia, o candidato eleito, em grande euforia, faz o seu discurso:

“Quem é que tinha razão? Quiseram linchar-me mas lincharam-se! Somos uma família! Viva os pioneiros!” “Viva”.

O jornalista da TVI pergunta, “o que quer dizer com isso?”

Meio zangado, meio eufórico o candidato eleito lá vai explicando:

“Tomaram o meu partido do coração de assalto. Depois correram comigo. Tiraram-me das listas. Mas eu, que sou eu é que sei, sou eu que conheço esta freguesia, decidi concorrer sem o partido e mostrar àqueles gajos que não preciso deles pra nada. Tá a perceber? Eu sou e serei sempre socialista, mas com aqueles gajos é que não! Porque aqui, somos uma família! Uma família! Viva os pioneiros!”

Pelo meio, abraços e beijos eufóricos da população quinta-condense aglutinaram o candidato eleito, que caído no chão, abraçado a muitos camaradas que sobre ele caíram, continuava a gritar, de punho no ar: “viva os pioneiros”, viva eu”, “viva nós”, “viva todos”, “viva à quinta do conde”, “viva…”

No burgo começavam a ouvir-se festejos. Da janela vêm-se pessoas com bandeiras vermelhas no ar. Há foguetes e fogo de artifício.

Alguém que passa na rua grita: “foram cinco! Nem no tempo do zequiel! Foram cinco!”

Passa a correr alguém com uma bandeira laranja, atrás dos festejos vermelhos. “é pá, metemos um! Um é nosso!”

Voltando ao que se passa nas televisões, os jornalistas lá vão dizendo que a "maioria absoluta foi esmagadora” e que, se “assiste a uma derrota histórica do partido socialista que, pela primeira vez na história do concelho de Sesimbra, não consegue eleger um único candidato”.

Entram em directo para a conferência de imprensa convocada pelo partido socialista:

“Olá boa noite, eu, enquanto representante desta equipa que se candidatou a estas eleições autárquicas, venho desta forma transmitir a todos, aquilo que neste momento é o sentimento do partido e desta equipa que me acompanhou. Para isso, e porque somos e seremos sempre uma equipa, vou passar a ler o pequeno texto que em conjunto, redigimos:

Eu, sendo o cabeça de lista nesta corrida autárquica, assumo a derrota do partido. Se existe algum culpado, sou eu.”

O candidato não eleito pára de ler. Faz-se silêncio. Amarrota o pequeno papel e levanta os olhos em direcção à primeira fila de cadeiras onde está sentada toda a equipa e pergunta: “Mas desde quando é que o culpado sou eu? Hã? Se há aqui algum culpado, esse culpado não sou eu!”

Posto isto, dirige-se à primeira fila de cadeiras a esbracejar e a gritar “o culpado não sou eu, ouviste?, o culpado não sou eu!” Pessoas levantam-se das cadeiras. Há gritos de “calma, calma!”, empurrões, muletas no ar, palavrões, braços a esbracejar e, a televisão sai do directo…



Desta vez, o despertador marcava 10 horas da manhã… e as férias ainda duram…