sexta-feira, 11 de julho de 2008

Não batam mais no ceguinho - Parte 1

Muito se tem blogado sobre os “empregos” e os “trabalhos” que se arranjam em Sesimbra. Mas antes de se atirarem pedras a instituições, famílias e pessoas, não deviam todos pensar nessa aparente grande dificuldade? Ou será que até é fácil? Se calhar bastará um pouco de empenho, dedicação, fé e esperança. Vejamos:

Todos sabem que a pesca já deu o que tinha a dar. È proibido pescar á cana, as artes são só três dias por semana, as aiolas são o que se vê e, as traineiras são cada vez menos. Gente nova nesta vida dura, nem vê-la.

Na agricultura, e tirando a iniciativa da PROVE, o que é que temos? Nada. Não há gente nova a cultivar, nem a cavar a terra.

As empresas de construção (construção civil, obras públicas, serralharias, carpintarias, marcenaria, pedras, transportadoras, …) já tiveram melhores dias. E estas, são na sua maioria, “pequenas/médias empresas familiares” por vezes com alguns amigos e amigos dos amigos.

As pedreiras e os areeiros ao que parece têm os dias contados. Pelo menos é o que diz o PNA e o POOC. E grandes obras (tipo ponte Vasco da Gama e Expo) não se vislumbram a curto prazo. Mas, também aqui o universo é familiar e de amigos.

Depois, tem-se a restauração. E neste negócio, a frase feita é “isto tá mau”. Aqui, trabalhar só de verão, porque no inverno, ficam a família, os filhos, os sobrinhos.

No comércio local, são as mesmas caras, as mesmas pessoas, durante anos e anos e anos. Empregados? Não podem ter porque “isto tá mau”. Mais uma vez, o negócio é familiar.

O que é que sobra? O que é que sobra para o pessoal da terra, que não tem na família ninguém com um negócio? Onde é que podem procurar emprego? Como qualquer cidadão deste país, tentam arranjar emprego na área de residência…

E é aqui que o problema se põe. Tirando a pesca, a agricultura, a restauração e o comércio local, sobram:

Instituições bancárias. Vagas? Ofertas de emprego? Se existem, ninguém sabe. E os que sabem souberam por alguém que disse quase em segredo. Para além disso, é preciso formação académica. Porque sem formação, já têm muitos dos mais velhos que foram e são a cara da instituição na nossa terra, durante anos e anos.

Seguradoras. Pois é. Estas, também são familiares.

Imobiliárias. Tirando as familiares, talvez seja uma hipótese.

Lojas do chinês. Nestas, só chineses.

Farmácias. Vagas? Para além disso, também é necessária formação.

Finanças, Conservatória, Notário e Tribunal. Vagas? Ofertas de emprego? E, segundo dizem, são “sete cães a um osso” e muita gente de fora. E claro, formação académica.

Centros de Saúde ou SAP. Os lugares estão ocupados pelos mesmos de sempre. Ofertas de emprego? Desconhecem-se.

Laboratórios de Análises e exames médicos. São poucos. Aparecem agora, ao fim de muitos anos, caras novas e gente nova. Pode ser também, uma hipótese. Com formação, claro.

Colectividades, Associações e Grupos Desportivos. Ouve-se falar por vezes de vagas para as secretarias. Mas aqui, é difícil “entrar”. E, dizem, pagam mal.

ATL, Infantários, Creches, Lares de Idosos e Centros de Dia. Grande lobby. Familiares. Amigos. E antes de um sair, o outro já entrou. Não há vagas nem ofertas de emprego.

Igrejas. O trabalho comunitário pode ser uma opção. Pagam?

Santa Casa da Misericórdia. Irmãos e Irmãs.

Juntas de Freguesia. Não têm dinheiro. Precisam da CMS. E os funcionários que têm chegam. Vagas? É preciso estar atento e ter fé.

Assembleia Municipal. É preciso secretariar os eleitos. Mas esses lugares estão ocupados. Esqueçam.

Câmara Municipal (e aqui cabem as Bibliotecas, Cinema, Escolas e Museus). Aparentemente é o que sobra.

Aqui, abrem concursos (sim porque é preciso abrir concurso público para oferta de emprego, publicado em diário da república), todos os meses, para as mais diversas funções, com as mais variadas habilitações literárias. Basta concorrer. E claro, se calhar bastará um pouco de empenho, dedicação, fé e esperança e o lugar é seu! Como a oferta de trabalho é pública, o seu nome será também publicado em diário da república, para que todos saibam quem ficou com o lugar.

Senão entrar, pode sempre reclamar para os tribunais administrativos. Porque aqui, porque é estado, pode reclamar. E até pode ganhar a acção.

É preciso cuidado quando se diz que só entram familiares, amigos e pessoal com cunhas. Provavelmente entrarão muitos. Mas muitos outros entram por mérito próprio.

Num universo laboral tão fraco, a Câmara Municipal assume obrigatoriamente e necessariamente, um carácter humano e social. Mas não é só em Sesimbra.

Tirando as Câmaras dos grandes centros urbanos seria interessante averiguar por quem são compostos os quadros de pessoal das Câmaras mais longe dos centros. Provavelmente são compostos por muitas pessoas dessas terras, muitas famílias e familiares.

Deixem-se de conversas ofensivas que só demonstram desconhecimento da matéria.

A tesoura de atarracar já referiu que não são os assessores, os tachos e tachinhos, as cunhas e os amigos, que fazem as coisas funcionar. Esses mudam de quatro em quatro anos.

Os outros, os dos quadros, é que lá ficam a resolver o que tiver de ser resolvido.

Pelo menos, merecem-nos respeito. Como cidadãos que prestam um serviço público.


3 comentários:

Anónimo disse...

Tem toda a razão excepto, na minha opinião, quanto à Câmara Municipal e aos seus funcionários. Não acha que são funcionários a mais? Basta entrar em qualquer serviço para esta situação ser constatada. De resto, se por um lado a atitude é nobre ao dar trabalho aos indígenas por outro lado e a seu tempo poderá ser um pau de dois bicos pois essa situação é insustentável. A Câmara não é a Santa Casa para estar a pafar vencimentos com o dinheiro de todos nós, e mais grave, sacado do investimento para melhoramentos no concelho. Não seria mais fácil e muito menos onoroso, e a exemplo de muitos outros concelhos incluindo os limítrofes, criar condições favoráveis para a criação de um ou dois parques industriais para, deste modo, criar empregos sem ser a custas do município?
As diversas Câmaras que por cá têm passado padecem de um mal que é fatal nos dias que correm em pleno século XXI, isto é, recorrem à boa vontade, ao espírito de sacrífio e ao em cima de joelho, à boa maneira do antigamente nas sociedades de recreio e esquecem-se de que, hoje em dia, há empresas especializadas nas mais diversas matérias entre as quais destaco as de Recursos Humanos, as de Regulação de Tráfego Rodoviário, as de Turismo e muitas outras que, sem dúvida, contribuiriam muito para o progresso da terra. Mas o dinheirinho não chega pois para praticar a misericórdia hoje não se investe no amanhã o que nos dias que correm significa a morte anunciada.
Deus lhes perdoe.

Anónimo disse...

Pois é amigo anónimo, se ja há desemprego em Sesimbra, imagine se a Câmara não tivesse esses empregados todos.
Não Critique só por criticar, mas desde que a pesca acabou, se não fossem os empregos na câmara, ainda mais desemprego haveria em sesimbra.

123 disse...

Tudo muito bonito, mas não parou de falar em cunhas.

Quanto aos assessores, nem se fala. Assessores a ganhar 1500 € e ais sem fazer nada. Ainda mais assessores de fora. Não me digam que não existem sesimbrenses formados para esses cargos.

Sabe-se do flagelo provocado pelos assessores, do assessor que todos os dias utiliza transporte da câmara para vir e ir para Lisboa, etc etc etc.

Não é a população empregada na câmara que está mal, é quem os dirige e quem gere a CMS.