terça-feira, 15 de julho de 2008

Não batam mais no ceguinho - Parte 3

Porque o tema ainda justifica, a tesoura de atarracar termina a trilogia sobre aquele que irá resolver e pôr em pratos limpos, se efectivamente os funcionários públicos são competentes ou incompetentes.

Na continuação da pesquisa, a tesoura de atarracar deu de caras com uma lei de 2004 que cria o “SIADAP” – Sistema Integrado de Avaliação do Desempenho da Administração Pública.

Os funcionários públicos vão então ser avaliados com base em “objectivos” e “competências” definidas pelas chefias, dirigentes, eleitos, tachos e tachinhos. Estes, terão que analisar se o funcionário atingiu esses “objectivos” e “competências”, avaliar a “atitude pessoal” e, atribuir-lhe um valor situado numa escala de 1 a 5. A progressão rápida na carreira efectua-se se as chefias, dirigentes, eleitos, tachos e tachinhos vierem a atribuir um 4 (que corresponde a “muito bom”) ou um 5 (que corresponde a “excelente”).

No entanto, o sistema é por quotas: 20% dos funcionários podem ter “muito bom” e 5%, podem ter “excelente”. O resto do pessoal terá “bom” ou “necessita de desenvolvimento” ou “insuficiente”.

Para além disso, haverá ainda que dividir estas quotas pelas carreiras profissionais: “auxiliares”, “operários”, “técnico-profissionais e administrativos”, “técnicos superiores e técnicos”.

Apliquemos então, o SIADP à CMS.

Num exercício meramente académico, suponhamos que a CMS tem 1000 trabalhadores (do quadro, onde não se incluem chefias, dirigentes, eleitos, tachos e tachinhos).

Destes, se 400 trabalhadores forem “auxiliares”, poderão existir 80 “muito bons” e 20 “excelentes”.

Se 200 trabalhadores forem “operários”, poderão existir 40 “muito bons” e 10 “excelentes”.

Se 300 forem “técnico-profissionais e administrativos”, poderão existir 60 “muito bons” e 15 “excelentes”.

Se os restantes 100 trabalhadores forem “técnicos superiores e técnicos”, poderão existir 20 “muito bons” e 5 “excelentes”.

Do total de hipotéticos “muito bons” (200) e de “excelentes” (50), sobram 750 trabalhadores que serão distribuídos pelos “bons”, pelos que “necessitam de desenvolvimento” e pelos “insuficientes”.

Um “bom” é bom. Um “necessita de desenvolvimento” significa conseguir um “bom” no ano imediatamente a seguir. Um “insuficiente” dará direito a despedimento.

Onde estão inseridos os trabalhadores da CMS?

Será que os resultados das avaliações levadas a cabo pela CMS, serão tornadas públicas, para que nós, simples cidadãos pexitos, possamos confirmar se o que se diz é verdade?

Será que existem alguns trabalhadores que “necessitam de desenvolvimento”? Será que existirão trabalhadores “insuficientes”?

Ou será que todos os trabalhadores da CMS são “bons”?

Será que, se existirem trabalhadores “excelentes” e “muitos bons”, serão apenas aqueles que supostamente entraram na CMS com “cunhas” ou por “mãos amigas” e que idolatram as chefias, dirigentes, eleitos, tachos e tachinhos, passando-lhes “a mão pelo pêlo” e “lambendo-lhes as botas”?

Claro que estas classificações dependerão se o trabalhador atingiu ou não os “objectivos”.

“Estabelecer objectivos”. Esta deve ser uma tarefa árdua com que as chefias, dirigentes, eleitos, tachos e tachinhos se debatem. Por exemplo: qual é o objectivo definido para o coveiro? E para o nadador-salvador? E para o telefonista? E para o empregado do bar? E para o motorista?

E para a ajudante de cozinha? Será qualquer coisa do género: “manter muito bem areados todos os tachos, tachinhos e restantes utensílios domésticos”?

Desconhecendo qual o resultado de tais avaliações, a tesoura de atarracar não pode deixar de lançar um apelo:

Não ambiciones vir a ter um lugar na CMS.

Se estás na CMS, tenta conseguir que os eleitos te promovam a chefe ou dirigente.

Se não conseguires, tenta tornar-te amigo/amiga da chefia ou do dirigente. Paga-lhe uns cafezinhos de vez em quando, pergunta-lhe se o fim-de-semana foi bom, preocupa-te com os animais de estimação que ele/ela possa ter, manda-lhe um postal (ou até mesmo uma prendinha) pelos anos, preocupa-te com a saúde dele/dela, diz-lhe um sítio onde há sempre lugar para estacionar o carro, conta-lhe piadinhas inteligentes, envia-lhe aqueles e-mails de palhaçadas, recomenda-lhe um restaurante simpático, usa umas mini-saias ou uns bons decotes (ele) ou oferece-lhe flores (ela), diz sempre bem dele/dela a tudo e a todos de forma a que lhe chegue aos ouvidos, enfim…, torna-te imprescindível para o que ele/ela precisar. E lembra-te, há sempre quem consiga subir deitada/deitado…

Esta é a receita básica e rápida para conseguires pertencer ao grupo dos escolhidos. Não terás que te preocupar. Basta que sejas submisso/submissa.

Por outro lado, senão trabalhas na CMS e se tens a escolaridade obrigatória, ou se és recém-formado, ou desempregado, ou reformado, alista-te num partido.

De preferência no partido que está no poder. Depois “faz-te amigo” dos mais influentes e, ao fim de uns meses, terás um lugar assegurado, não sujeito a “avaliações” e a auferir mensalmente, pelo menos, 1.500€.

Serás então um tacho ou um tachinho (depende com quem fizeres amizade). Serás areado de forma contínua e continuada pelo mais variado tipo de gente.

Apenas terás que te lembrar de três coisas importantes: Primeira: és um deus. Segunda: como deus que és, existirão sempre guerras por tua causa. Terceira: todos te idolatrarão, por seres deus, e acreditarão na tua justiça anual.

Se tiveres algum tipo de moral, podes lembrar-te (mas só de vez em quando) que estas gentes que te “areiam”, sabendo as regras do jogo, dependerão desse “areamento” para poder subir mais rapidamente na carreira e receber mais uns trocos ao fim do mês…

Esta será a receita mais complexa, que exigirá algum “esforço” da tua parte. Mas não terás de te preocupar com coisas menores, porque o teu é certinho. E se o teu partido perder, nas próximas eleições, podes sempre "virar a casaca".

A tesoura de atarracar já referiu, várias vezes, que não são os assessores, os tachos e tachinhos, as cunhas e os amigos, que fazem as coisas funcionar. E agora acrescenta: também não são os eleitos, as chefias e os dirigentes que fazem as coisas funcionar. São os outros…

Estava escrito em qualquer lado: “O político pode prometer fazer, prometer resolver, prometer conseguir. Mas se os funcionários não cooperarem, o politico nada faz e, nas eleições seguintes, dá lugar a outro”.

Não batam mais no ceguinho. São nos que têm os ollhos bem abertos que devem malhar.


2 comentários:

Anónimo disse...

O SIADAP na CMS está mal aplicado. Foi aplicado na sua forma mais idiota, as quotas são por departamentos. Onde há mais (peudo) doutores há mais boas notas.
O que tem de delicioso no meio disto tudo é que se pode reclamar quando não se gosta da nota e, uma nota mal dada (mal justificada) é uma carga de trabalhos para quem a deu, quando há reclamação. O que é bom para os chefes idiotas.

O que é bonito é que todas as avaliações têm que ser afixadas e toda a gente fica a saber a nota uns dos outros.

As avaliações já foram.
Assim... o melhor está para vir!

;)

Anónimo disse...

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