segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Ao largo...


Estranhamente, ainda ninguém falou sobre as últimas obras do burgo… tirando a referência “aos multibancos para anões” (calhandro de Sesimbra) e à “central eléctrica” (o outro lado do espelho), ninguém abriu a boca…

Conforme a tesoura de atarracar já referiu noutros posts, numa época em que o chamado centro histórico do burgo é revitalizado com grandes obras de conservação e recuperação e pelo que já se pode observar das obras que já se conhecem, as intervenções urbanísticas têm-se preocupado em recuperar um determinado valor patrimonial e tentam reabilitar vivências sociais e memórias culturais das respectivas áreas.

Para este caso concreto, a tesoura de atarracar começa por citar aquilo que Raul Lino dizia em 1918:

(…) Um erro que muitas vezes se incorre é o de se desprezarem condições topográficas existentes (…). Quantas vezes se vê (…) despender somas importantes em movimento inútil de terras só para poder começar a construir num chão raso, sacrificando árvores e acidentes de terreno que só por si dariam o maior encanto (…).”

Meus senhores de “renome internacional”, aquela árvore do largo, na esplanada do João, existe, há pelo menos, 90 anos! Ou melhor, existia. Porque estes senhores decidiram abatê-la e plantar uma outra, um metro mais abaixo. (para os cafés ganharem mais esplanada e a edilidade ganhar mais em taxas).

A tesoura de atarracar esclarece:
A árvore não estava doente.
Mas como quiseram aumentar as esplanadas, não souberam adequar o projecto à topografia existente nem tão pouco encontrar uma solução que permitisse manter a árvore e integrá-la na nova esplanada.
Depois, em obra, quando viram que existia uma grande diferença de cotas, que colocou as raízes da árvore à vista, abateram-na.
E para que o chão da rua que vem do grémio não caísse, construíram um muro de suporte para conter as terras…

E que muro é aquele?

Não havia outra “coisa” que se coadunasse melhor com o largo?

É que aquele muro quase que se coaduna com Marrocos. Aliás, dois dos muros quase que se coadunam com Marrocos. Só não se coadunam na sua totalidade porque terminam em topos lisos de arestas definidas.

O terceiro muro, mais pequeno e em frente aos “multibancos para anões”, quase se coaduna com Sesimbra… só lhe falta o capeamento (com 10 ou 11 centímetros) a pedra do Zambujal…

E o cantinho do mijo que este muro criou no remate com o prédio do black coffee? Para um projecto novo, esta é sem dúvida, uma “coisa” nunca vista.

Para já não falar da “central eléctrica, num lugar nobre, virada para a fortaleza e a fortaleza virada para ela. Que belo sitio. Esperemos que alguém de bom senso, decida disfarçá-la…

Porque o que não falta são “cães vadios”, foi ainda criado um segundo cantinho do mijo na escada que divide uma esplanada da outra, entalado entre o muro e a caldeira de uma nova árvore a plantar…

Então mas as intervenções não eram para melhorar o espaço público?

O que se assiste é a uma redução desse espaço público destinado a nós, peões.

O que se assiste é a uma ampliação da área destinada às esplanadas com uso privado (mais privado ainda quando os donos dos cafés colocarem cada um, um “aquário” – rede da xixa – e lhes chamarem esplanadas.

O resultado final irá ser mais uma via povoada de balizadores, que estreitam demasiadamente a faixa de rodagem e neste caso, reduzem o passeio.

Desta vez a tesoura de atarracar, atreve-se a perguntar:
Então mas a edilidade não teve ninguém a acompanhar estes projectos?
E não lhes caberia fazer com que estas “coisas” se coadunassem melhor com Sesimbra, com as suas gentes, e com as suas vivências?

Como já disseram noutros blogues, ao que parece o que se conseguiu, foi criar largos de contemplação, para que o “pessoal da terra” possa observar o “pessoal de fora” a comer … nos aquários…

A tesoura de atarracar ensina um outro conceito:
Um largo é um sítio público, por excelência, de sociabilidade. É e era, o local onde tudo podia acontecer: a fogueira nos santos populares, os bailes, o espaço de brincadeira das crianças, o espaço de jogo dos velhotes, …
Em alguns, pode existir comércio.

O conceito de largo público não pode nem deve ser subvertido para um largo destinado a esplanadas privadas. Elas existem e estão lá, mas as pessoas e as esplanadas devem e podem conviver.

Estas soluções parecem desconhecer as vivências da população. Felizmente para nós que, o Tomé, à semelhança da pizaria central, nunca montou uma esplanada em frente aos “multibancos para anões”. Porque agora, o largo seria completamente privado e também o Tomé poderia colocar o seu aquário.

A nós, restar-nos-ia uns míseros metros de passeio, (balizados para que ninguém estacione, nem para cargas nem para descargas), que sobe em calçada até ao grémio, por onde todos passamos, novos, velhos, crianças, deficientes, famílias, excursões, turistas, … apertadinhos uns contra os outros, porque o largo é de todos mas foi oferecido às esplanadas…

Claro que tudo isto cairia por terra, se as escadas entre os cafés, viessem a definir um percurso público, limitando as zonas de esplanadas…

Aguardemos pelo mobiliário urbano e pela iluminação…

E aguardemos pelo inicio das actividades económicas. Porque ninguém se pode esquecer que o UrbCom, é um Sistema de Incentivos a Projectos Financeiros, que visa modernizar as actividades empresariais através da revitalização do espaço público.

E claro que as actividades empresariais, revitalizam o espaço público com as suas esplanadas…


4 comentários:

Calhandro disse...

Mais uma vez, os meus parabéns pela excelente mostra do que está a ser feito na nossa terra.

cumprimentos.

O Calhandro de Sesimbra

Anónimo disse...

Não há duvida o Polvora tem assessores de categoria.

Anónimo disse...

Esta deve ser uma obra assessorada pelo idiota : ALEXANDRINO o génio

Anónimo disse...

Bom comentário...